CAÇADA DE JAVALI COM CÃES DE AGARRE
Como todo sobrevivencialista, sempre tive vontade de caçar. Esta é uma habilidade imprescindível para sobreviver em cenários de crises. Porém, em respeito à legislação brasileira e por amor à natureza, nunca matei qualquer tipo de animal selvagem.
Nos últimos anos, venho acompanhado diversas reportagens sobre o avanço populacional dos javalis e os danos causados por eles ao meio ambiente e às plantações. Logo, meu interesse pelo tema só aumentou.
Neste feriado, surgiu a oportunidade de participar uma caçada aos javalis selvagens na cidade de Uberaba/MG. Recebi o convite do meu amigo e também Policial Federal, Gilson. Acompanhamos o grupo Java Hunters em algumas empreitadas. A expectativa era grande. Separei todos equipamentos que julgava úteis, muitos deles utilizados em outros tipos de atividades outdoor, e claro, a minha espingarda Winchester 1300 e minha pistola Glock G19. Na dúvida, vale sempre aquela máxima, melhor sobrar do que faltar (rsrss).
Na sexta, após uma viagem de 400km, mal chequei à casa do Gilson, que já começou a me passar algumas orientações importantíssimas para o sucesso da caçada e fomos nos encontrar com o restante do grupo.
A missão desta noite era tentar identificar rastros recentes dos animais próximo a uma plantação de cana de açúcar para no dia seguinte realizar a caçada. Embarcamos em uma caminhonete 4x4, e partimos. Passamos um bom tento batendo estradas em meio às plantações, encontramos alguns rastros, mas bem menos do que era esperado. Nosso grupo era liderado pelo experiente Lúcio, que em consenso com os demais caçadores decidiu realizar a caçada em outra localidade, já conhecida por ter muitos porcos.
“o javali é um animal de hábitos noturnos. Ele geralmente se esconde nos canaviais durante o dia e sai em busca de alimento à noite” Fonte: G1
No sábado, bem cedo, nos reunimos. O primeiro passo foi colocar a cachorrada na caminhonete, então, partimos para o mato. Descemos os cachorros e colocamos os coletes de proteção, item fundamental para a segurança deles. A matilha era liderada pelo Bigo, um beagle extraordinário. Além dele, haviam 2 americanos para faro e outros 7 para agarre, entre pit bulls, filas e dogo.
Dividimos o grupo, 2 seguiram com os cachorros brejo acima, enquanto o restante dos caçadores se posicionavam de maneira a cercar os javalis. Batemos uma boa área e nada. Tentamos em uma plantação de cana e novamente nada.
Diferente do que parece ao assistir às reportagens, a caçada é uma atividade extremamente complexa. São necessários anos de experiência para ser um bom caçador, é imprescindível ter uma boa matilha, ter conhecimentos de rastreamento, navegação terrestre, manuseio de armas e, claro, um bom preparo físico.
Eventualmente, os animais davam algum toque (latido característico de quando encontram o rastro de algum animal), mas não encontramos os javalis. Estávamos batendo outra área de brejo, quando de repente o Bigo deu um novo toque. Quando é ele, todos ficam animados, pois sabem que o danado está encalço de algum porco.
Pelos sons percebemos que o animal estava provavelmente correndo nas margens do rio. Porém, o acesso em meio à mata fechada era bem complicado. Nosso grupo se espalhou tentando interceptá-lo, todos paralelos à margem para reduzir os riscos e aumentar as chances de abate.
Como esta era minha primeira caçada, confesso que fiquei apreensivo. Sempre há a possibilidade de trombar com um cachaço (macho adulto com presas) e não há chance para erros. Estes animais são agressivos e atacam caçadores e cães. Se te pegarem, o estrago é grande.
Estava me sentindo em uma missão policial em busca de traficantes de droga. As técnicas usadas são em grande parte similares à disciplina de Patrulha Rural, ministrada pela PF e pelo EB. Neste momento, seus sentidos ficam aguçados, relembrei dos meus treinamentos, adotei o mindset de caçador. Não há improviso, em uma situação de estresse você fará aquilo treinou, é o que chamamos de memória muscular.
Notei que os cachorros estavam retornando em minha direção. Progredi com cuidado até a área de mata, afinal, a qualquer momento poderia me deparar com um javali acuado. Tive que desempunhar a espingarda para sacar o facão e abrir uma picada pela mata densa. Percebi movimentação à minha esquerda, os latidos estavam mais próximos. A chance que tanto aguarda estava há poucos segundos.
Tomei uma posição elevada em relação ao rio, porém a mata fechada comprometia a visualização do alvo. Um dos meus maiores receios era acertar sem querer um dos cachorros. De repente, em meio às árvores, vi um java-porco correndo bem à minha frente, apontei a espingarda e atirei.
Por causa da mata, não consegui ver se o animal havia caído. Aguardei alguns instantes para ver se outro caçador estaria vindo em minha direção, mas não vi ninguém. Os latidos ficaram mais forte, notei que estavam em posição fixa. Resolvi descer o barranco para seguir eventual rastro de sangue. Quando cheguei à margem, pude visualizar os cachorros a uns 20m de distância sobre o java-porco. Aparentemente ele já estava morto, o tiro foi certeiro, atingindo o pernil dianteiro direito. Os cachorros faziam aquilo que foram treinados para fazer, mordiam o bicho. Com cuidado, saquei minha faca e perfurei a caixa tórax para sangrá-lo. Logo, chegou o Lúcio e me cumprimentou pelo abate. Percebi que havia sido aceito no grupo.
A seguir, chegaram os demais caçadores, abrimos uma trilha, arrastamos o pesado animal e o jogamos na caçamba. Alguns seguiram para a fazendo para limpá-lo e adiantar o almoço. O restante continuou descendo o brejo para ver se encontrava mais algum. Caminhamos aproximadamente 2h, mas não encontramos.
Chegando à sede, fomos recebidos com uma cerveja gelada e, seguindo a tradição, comemos o fígado do animal abatido. Enquanto isso o Zói (um cozinheiro diferenciado) preparava um arroz com suã no fogão à lenha, pensa num rango bom.
No domingo, mesmo debaixo de chuva, partimos para uma nova caçada, desta vez na fazenda visitada na sexta. A metodologia empregada foi a mesma, mas não abatemos nenhum animal. De qualquer maneira, foi um final de semana de muito aprendizado e fortes emoções. Os Java Hunters têm feito um excelente trabalho de contenção populacional dos javalis na região de Uberaba/MG. Espero em breve ter uma nova oportunidade. Volto pra casa com a sensação de dever cumprido, minha contribuição foi dada.
Cabe destacar que os javalis não são nativos e não tem predadores naturais no Brasil, sendo considerados Fauna Exótica Invasora pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Como forma de controle populacional desta praga, desde 2013, o IBAMA regulamentou a caça. Atualmente, é a única permitida no país. Confira aqui a legislação.
“A agressividade, a facilidade de adaptação e a ausência de predadores ou competidores naturais levam o javali a figurar na lista das cem piores espécies exóticas invasoras do mundo.” Fonte: IBAMA
EQUIPAMENTOS UTILIZADOS
- Espingarda Winchester Defender 1300 (cartuchos SG)
- Pistola Glock G19 (com lanterna tática)
- Fiel para pistola
- Faca de sobrevivência Cold Steel SRK
- Facão 12” Tramontina
- Lanterna tática Fenix Pd 35
- Lanterna de cabeça Petzl Tikka 2
- Uniforme camuflado padrão woodland
- Bota de trilha
- Perneira (ou polaina)
Para saber mais sobre como realizar o controle populacional dos javalis clique na imagem acima.
LEIA TAMBÉM
http://www.ibama.gov.br/areas-tematicas-fauna-silvestre/manejo-e-controle-de-javalis
http://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2015/09/ameaca-lavouras-javalis-sao-alvo-de-caca-autorizada-no-interior-de-sp.html
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